sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um amor por escrito


















Nas cartas, os sentimentos vão assinados e rendem alta literatura. Todos os livros são – na verdade – epístolas secretas ao leitor, roteiros surpreendentes e tensos de emoção. O escritor procura convencer quem vai lê-lo, provar que ele ou sua personagem é real e inadiável

A literatura brasileira começou por uma carta do escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha, ao rei de Portugal, Dom Manuel. Descreve o povo indígena e as exuberâncias inacreditáveis de Porto Seguro, numa tentativa de reconstituir os olhos com as mãos. “Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade... Não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.” Será que não estamos eternamente condenados a respondê-la?

Ao lado do diário, a epístola é um implacável recurso narrativo (pressupõe o diálogo com outrem enquanto o diário cede ao diálogo consigo). Comove e se impõe pela interlocução direta e sincera. Pode-se duvidar de qualquer coisa, menos de sua veracidade. É uma conversa à beira da decisão, demarcando uma despedida, uma confissão ou um pedido de perdão. Algo como um segredo partilhado: taquicardia e mancha. O ficcionista Luiz Ruffato destaca a força de sua transparência: “A narrativa tradicional, mesmo em primeira pessoa, é seletiva - o leitor desconfia que o autor está escondendo algo dele. Na epistolografia, não, a sensação é de que nada nos está sendo omitido.”

O envelope funciona como ponto de encontro dos sedutores e dos angustiados, dos abandonados e dos confiantes. Os apaixonados ultrapassam o certo e o errado, as convenções, para serem fiéis ao seu destino.

Fonte: Leia a íntegra do texto na Revista da Cultura

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