quarta-feira, 4 de julho de 2012

100 X Nelson Rodrigues





No cenário cultural brasileiro da segunda metade do século passado, brilhou o grupo de mineiros radicados no Rio de Janeiro conhecidos como “Cavaleiros de um íntimo apocalipse”: Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino. Talvez mais um pudesse ser incluído, se mineiro fosse, pela amizade que o ligava a todos. O quinto cavaleiro seria Nelson Rodrigues, que completa 100 anos de nascimento em 23 de agosto próximo. Artista e jornalista – falecido em dezembro de 1980 –, ele faria jus ao nome do grupo por um sentido específico: o de ter mapeado com profundidade uma série de aspectos da cultura brasileira e do limite do humano, demasiadamente humano.

Fartamente clicado, uma imagem que melhor o revela é a fotomontagem da capa da primeira edição de Memórias – A menina sem estrela (1967). Nelson vira vários Nelsons, plural como suas atividades em torno da palavra: repórter, dramaturgo, romancista, cronista e memorialista. Em todos, caminhou sobre o fio da navalha da condição humana, por vezes questionando acidamente o leitor ou o espectador. A Revista da Cultura ouviu amigos e pesquisadores para levantar aspectos de sua vasta obra. Mas é muito difícil não chegar perto da palavra “gênio”, apesar de ainda ter muito a se descobrir sobre ele.

Ele pelos outros
Mas quem era, afinal, Nelson Rodrigues? Para o escritor, jornalista e último “personagem” de suas crônicas, Carlos Heitor Cony, foi talvez a figura mais importante tanto no jornalismo como no teatro brasileiros, além de um amigo muito querido. Tinha raro talento: o dom da “palavra certa ou justa” para sintetizar bem o que queria dizer. E o que mais se aproximou da poesia, tanto que Manuel Bandeira o definia como “o maior prosador dramático da cultura nacional”. Um exemplo de lirismo na dramaturgia, Cony lembra a fala repentina do texto de Valsa nº 6 (esgotado): “E quando chove em cima das igrejas, os anjos escorrem pelas paredes”. Para ele, tal imagem desconcerta o espectador e é difícil acompanhar a encenação.

Fonte: Acesse o Link - http://www.revistadacultura.com.br

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