Ele estava por demais ansioso. O sono foi interrompido na madrugada. E olha que nunca teve insônia. Tomou calmante, coisa que nunca fez a vida inteirinha. Era preciso acalmar a emoção. Segurar o coração, mesmo sendo uma rocha. E chegou a hora. Lá estava ele, de paletó preto, sapatos também da mesma cor, recém-engraxados, e chapéu panamá. Parecia um lorde. Na verdade, ele é um lorde. No meio daquela gente importante e letrada, ele seria o mais importante. As homenagens eram pra ele, o homem que lutou, há quase meio século, contra a ditadura e levou o saber àquele fim de mundo.
Na manhã de ontem, o homem que nunca leu, nunca escreveu uma frase — nem o próprio nome — virou nome de biblioteca, a única daquele lugar tão improvável. Em pé, diante dos nove filhos, dos netos, dos professores, “de uma gente estudada e sabida”, ele disse, como agradecimento: “Eu não sei ler, mas o coração sabe sentir. Deus vai proteger todos vocês. Que ninguém mais passe pela vida sem conhecer as letras”. Arrancou aplausos e lágrimas da plateia.
A inteligência de Santil nunca se sentou num banco de escola. Nem foi preciso. E ainda assim ele virou um sábio.
Fonte: Leia o texto no site Correio Braziliense
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